domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fui pro Spa Vilhões da Festa da Uva. Maizáaaaa!

Antes de mais nada já aviso: "sinhê!" eu sei que está escrito de forma errada o título deste post, já que "me" é pronome oblíquo e não conjuga verbo, mas eu quis escrever exatamente como eu falaria isso.
Buenas, a foto que ilustra o post é dos Pavilhões da Festuva, da Festa Nacional da Uva de Caxias do Sul, a maior e mais colona festa que eu conheço.
Trata-se de uma festa que é a cara da cidade, desde seus remotos tempos, quando os imigrantes italianos faziam concurso de uvas na praça. Com a produção de uva e vinho, ficou maior, ganhou contornos de algo mais organizado, e por que não elitizado.
Aqui em Caxias do Sul, para as gerações antigas, ser a Rainha da Festa da Uva era um baita de um elogio. Afinal, todas as meninas - inclusive a Sammy - foram criadas assim: má ché bella tosa, quando crescer vai poder ser Rainha da Festa da Uva. Hoje eu não vejo mais esse tipo de elogio, e se alguma nonna o faz, percebe-se os risinhos marotos das pessoas ao redor, como que dizendo, pobre nonna, ainda é do tempo da Rainha da Festa da Uva.
Para quem pensa que isso é coisinha de gente interiorana, um aviso: Caxias do Sul tem em torno de 1.530 Km² ,de área e uma população de mais de 400 mil habitantes em dados oficiais. O que equivale dizer que é Grande como São Paulo, porém com maior área rural, ou seja de colônia.
Explicado isso, entenderão porque somos tão colonos.
Basicamente, a festa ocorre nos tais pavilhões e no desfile do Corso Alegórico na Rua Sinimbú, bem no centro da cidade.
Esse ano, como todos os outros, o desfile foi criticado demais. Faltou colonos de fato e blébléblés.
Em virtude de tantas críticas eu não havia me animado a ir na tal festa, até que me estressei com a síndica e acabei aceitando o convite do meu Amoro para sair e ir ao Spa Vilhões. Só fui porque ele insistiu e eu não estava a fim de ficar em casa ouvindo as paredes tremerem ao som de Dejavús e Calipsos graças ao potente aparelho de som da síndica de gosto musical duvidoso que mora no andar abaixo, que por ser síndica afirma que entre 6 da manhã e 10 da noite ela pode fazer o estrondo que quiser. Ameacei tocar Carmina Burana as 6 da manhã em ponto na segunda-feira. Ela nem deve saber o que é isso... Aff! Mas baixou o som, um pouquinho, mas baixou...
Saimos num dia especial, o dia do passe livre, ou como dizem aqui, duzonibuz di gratis, ou o dia duspobre. (Para quem não sabe, todo o último domingo de cada mês o transporte coletivo é gratuito).
Que legal. Acabamos fazendo de ônibus parte do trecho que intencionávamos fazer a pé, como belos desportistas colonos que caminham bastante para ter desculpa de se embugar de comida depois... (hehehe, funciona gente!!!!)
Chegamos no Spa. Que chique, tudo a ver, pessoas vestidas de uvas ao som de.... tchanãmmmm: Pa-go-de!!!! Isso mesmo. Festa típica italiana, chique e tals. Na pior hipótese eu aceitava uma música gaudéria, buenacha, ou uns italianos legítimos, daquelas músicas italianas que a mãe da gente curte. Mas não, era pagode. Começamos a nos colocar no lugar de turistas que não conhecem nada ali. Ficamos tristes. Parque de diversões lotados. Comentei com meu Amoro: acho que o povo paga para gritar, não é possível... Perceberam a gritaria desses lugares? Parece que só de olhar uma roda gigante já tem alguém gritando...
Recordamos de como era bom esses parques na nossa infância e de nossos brinquedos prediletos. O dele é o carrossel. Eu nunca gostei de carrossel, os cavalinhos andam em velocidade constante, não tem emoção, só labirintite. Eu gostava de carrinho choque. Esse sim. Saia espumando de raiva dos idiotinhas que cismavam em ficar batendo em mim em vez de dirigir o carrinho... Aff! Boas lembranças...
Visitamos a história da uva, da cidade, do trem... Interessante. Vimos as uvas na exposição. Encontramos nomes de expositores conhecidos. (Bem típico de colono. Colono sempre conhece outro pelo sobrenome, e descobre que talvéz seja parente distante.) Os estantes mais chiques, com empresas grandonas, tipo a Marcopolo. No nosso tempo eles deixavam a gente entrar nos ônibus. Hoje não mais. Fiquei fã de um Jipe da Agrale chamado Marruá. Falei pro Amoro que eu queria um daqueles.
Tomamos suco de uva e comemos um lanchinho bem básico, um pedacinho de torta cada um. Andamos por todo o Spa. Degustamos cachacinhas "ótemas!", vinhos bons, médios e algum horrível também. Comprei mel, espumante brut, concorri a sorteios diversos. Perdi o show do Tholl, som altíssimo, bem capaz que eu ia aguentar.
Em fim, até que tava legal, mas nada a ver com a Festa da Uva mesmo. Tinha um brinquedo sinistro que enfiam umas crianças numas bolhas de plástico fechadas a zíper, cheias de ar e largam as pobres numa piscina rasinha. Pareciam ratinhos num laboratório. Depois viram adultos cheios de chiliques, chilipaques, pititrecos, pagam 8 anos de terapia para, num dia, lembrarem que a culpa foi da mãe deles que enfiou eles numa bolha daquelas quando pequenos... Aff!
Por falar em sinistro, os bonecos decorativos enormes são assustadores. Se eu fosse criança eu choraria. Imaginem um suposto colono de espuma de mais de 2 metros com um bigode preto enorme e cara de paisagem te olhando, com mãozonas prontas pra te esbofetear feito mosca...
Enfim, a fome veio e claro queríamos comer, afinal caminhamos muito e precisávamos repor as calorias.
Encontramos um espaço novo, o tal Salão Paroquial da Réplica. Imitando um salão de igreja de colonia, feito de madeira, ambiente tri rústico, ou tosco mesmo. Servem café colonial a 15 reais. Eu questionei imediatamente: e come a vontade? (Pergunta típica de colono. Leia-se: tá, eu pago esse preço todo, mas quero comer muito...) Claro!!!! Pronto dois amoros famintos e colonos.
Meus olhinhos brilharam. Ao som de cantorias italianas, me atirei nas polentas brustoladas, no salame, queijos, copa, pão caseiro, ximias de vários tipos, fregolá, grostoli, café passado, vinho cabernet, vinho niágara, suco de uva...
A ha!
Que colona. Me servi muitas vezes. Foi bastante engraçado ver o Amoro comendo polenta brustolada com garfo e faca enquanto a colona Sammy comia com as mãozinhas, intercalando as dentadas na polenta com dentadas na copa, no queijo, no salame.... Má é assim, sacramento! Garfo e faca não se usa. Já vem tudo cortado.
E num instante eu percebi que mulheres da minha geração já nem sabem mais fazer polenta, muito menos fregolá. Que as poucas capazes são as que ainda vivem na colônia. Para alguém "acostumado aos costumes" é indigno, por exemplo, uma máquina que faz pão sozinha. Perde-se o charme do toque de um pouco de banha no pão, deixar crescer, sovar com a mão, assar em forno a lenha...
E pensando nisso eu vi que eu estava com saudade daquilo. De comer polenta e de molhar o pão no vinho. De ouvir música de cantoria tradicional ao fundo. De ficar feliz de ver um pirralho de uns 3 anos brigando que queria mais polenta com a boca cheia de polenta.
Conclusão, se a Festuva 2010 foi uma droga, por n motivos, por um motivo ela não foi. Se um dos objetivos era conduzir o visitante a um retorno às origens, comigo e com o Amoro ela conseguiu. Nem lembrei mais da síndica. Só me deu saudade de um fogão de lenha, e polenta na chapa fazendo frfrfrlfrfrlfrlfrlfrlfrlfrlfrl.
Continuamos o passeio, comemos uva, e eu fiquei com desejo de comprar umas casinhas lindinhas, e uns bichinhos miniaturas do estante dos artesanatos peruanos. Também queria uma pulseira do estante dos artesanatos Kenianos, o kit de cachacinhas com ervas, um estoque de brut, umas bijous lindonas, um pala de lã, capinhas pra almofadas... Mas isso vai ficar pro próximo evento no Spa Vilhões...

Un struccon a tutti !
Sammy "Amora" Colona.

Um comentário:

  1. que delícia de texto!
    agora, quase já estamos na festa de 2011, não é?

    Comentando uma parte do texto: Tenho uma vizinha que arruma a casa ouvindo música evangelica em um volume altíssimo. Numa dessas vezes que acordei irritado, pus Vagner (com as Valquirias) à conversar com o pastor das músicas dela. Deu certo, ela deixou de ouvir música em seu máximo volume.

    PAZ

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