
Cercada de dragões, a bruxa vivia em sua cabana, em meio à floresta densa, afastada do mundo louco que não a compreendia. Acostumada à solidão, por vezes indagava-se: estarei destinada a jamais ser entendida ou aceita? Não posso ter uma vida normal? Mas ela sabia as respostas para seus questionamentos. Sabia de suas responsabilidades, sabia quem era e o que era. Sabia que não estava destinada a se alinhar com os comuns, que devia apenas proteger-lhes as cabeças incautas, exercer seu papel de guardiã secreta, em sua longa batalha contra o mal do mundo, do qual ela mesma já fora parte.
Entretanto, mesmo poderosa e sabedora de si, sentia-se muito só e, por vezes, perdida. Então, foi natural a surpresa que a acometeu ao encontrar aquele homem. Um homem que não a temia. Um homem que falava com ela como um igual, entendendo-a, respeitando-a. Um homem que olhava dentro de sua alma e a via como ela realmente era. Um homem que lhe transmitia confiança, segurança, compreensão e serenidade.


Um reencontro, um gosto de saudade, uma pausa na batalha. Um momento importante para ambos, um marco, um ponto de transição. O que foi achado não mais será perdido, não importa por que caminhos siga o futuro deles. Ela se tornou para ele conselheira e aliada, proteção, compreensão, inspiração. Ele se tornou para ela guardião e refúgio, luz e calor, aliado e confessor, o fiel de sua balança, tão pendente entre luzes e trevas. Ela encontrou nele a realeza buscada e esperada e, por isso, abençoou-o e lhe devotou seu serviço. Ele viu nela a majestade e a soberania das verdadeiras filhas da terra e a admirou e respeitou por isso, reconhecendo-a como a poderosa feiticeira de seu reino, seu oráculo e repositório das coisas perdidas e esquecidas, sua protetora e protegida, sua dama delicada e mais sanguinária guerreira. Agora, selada a aliança, nada mais será igual no futuro do reino."
( Paulo Eduardo M. Ferretti )